terça-feira, 19 de julho de 2011

Redes Sociais e Psicanálise - Parte I

O médico e o monstro

O Facebook de Freud
Simples seria introduzir o novo fenômeno das redes sociais virtuais no contexto da constituição e destruição da subjetividade moderna, não fosse a minha completa ignorância sobre a psicanálise. Sei sobre o que vivi. Sei porque fui fazer análise, porque fiz, e o que aprendi fazendo. E sei também muito sobre porque resisti por mais de uma década de me aproximar de um analista. 

Tenho a impressão que varias destas sabedorias que adquiri enquanto fazia análise guardam uma íntima relação com a sabedoria propiciada pela forma de interação usufruída pelos milhões de humanos pertencentes a redes sociais como o Facebook. Olhadas da perspectiva terapêutica (therapeia), o modo de produção da cura que cada um propicia, o analista e o Facebook, merecem ser contrastadas e aproximadas.

Conversas interiores, como as designa meu amigo Fred, são coisas complexas. Elas procuram (re)conciliar a solidão do silêncio da reflexão com uma imagem dialógica do exercício desta reflexão. Um novo existencialismo. É nele que aposta Fred e todos aqueles que, mesmo sem saber, não abdicariam jamais da sabedoria que a psicanálise lhes trás, digo, nos trouxe. Por mais de uma década, estive oblívio a este conhecimento que conversas interiores nos trazem. Nunca havia percebido que, no divã, o psicanalista precisa passar desapercebido. São conversas interiores as que travamos ali.

O monstro internáutico é menos poderoso, cobra menos, constrange menos, produz menos intimidade, e as conversas, escritas ou videofônicas, tem um interior menos saliente. A sacralidade dos ritos de ir fazer análise, horário imperdível, indesmarcável, constrastam com a devassidão dos encontros e abalroamentos que acontecem na rede social. Psicanálise demanda profundidade, silêncios mântricos, economia semântica de palavras. Rede social demanda menos. Apenas contato, curtir ou não, e uma economia, não semântica, mas ortográfica de palavras. Seus silêncios, e isto importa, não são mântricos, mas são igualmente silenciosos. Pois quem está na rede social, navegando o Facebook, em geral, está fisicamente isolado com seu aparelho de acesso, um celular, iPad ou computador.

Solidão, a poeira leve, une os modo curandi da análise e da rede social. O silêncio, nome farsante das nossas conversas interiores, une seus usuários. Tenho a impressão que vivemos em um mundo em que pensamos demais e falamos de menos. Aonde isto vai parar?
 






2 comentários:

  1. precisam inventar um aplicativo para converter pensamentos em escrita com postagem automática pro facebook.

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  2. Tem um autor austríaco do começo do século XX, Arthur Schnitzler, que fazia isso, mas era no modo manual, não tinha software na época dele. Vale uma olhada. Sugiro "Contos de Amor e Morte".

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